in pace

À feira vão em júbilo, acalentados pelo burburinho que partilham, todos juntos estão, marchando ao sol matutino, em mente a recepção adequada do verdejante espinafre colhido de seu leito com carinho. Belo dia espelha-se em seus rostos brandos, riem-se juntos. Esta levanta a barra do vestido quando lhe aparece a poça, filha da chuva de ontem; aquele grita ao camarada, dias  sem se ver e olhares de séculos. Multidão! E não param de chegar , se acomodando onde há espaço, procissão laica, pois sempre há. Parelelepípedos avante, abandonando cada pedra-pavimento como que marca de cada passo. Gloriosa manhã de agosto em que a guerra chega ao fim nas televisões de cada casa. Pois é tudo para os humores! Veja como em cada braço que se bate ao quadril, em cada coceira na cabeça, movimento retórico de mão, retração do pescoço em gargalhada, curva franzina de pele mora o louvor à primeira refeição dos tempos de paz. E que sejam bem-vindos , grita o senhor de bigode pondo à disposição sacolinhas biodegradáveis. Águas de coco calam crianças, mas não por muito tempo, não há carros. Repolhos figuram e desfiguram sobre suportes de madeira pintada como troféus esportivos. Uma linda maratonista foi conquistada pelas graúdas batatas doces, “hoje não corro”,  adverte o namorado .E como não mencionar os rádios quando velhas estações AM reativam as atividades: “não há de haver vozes bastantes para  louvar a nova era”, comenta um anão sentindo a internet sem-fio, no bolso,  lhe comunicar uma mensagem; fios e mais fios de cebolinha. Tio! Me alcança a abóbora! Mas está tudo tão fresco! Caminhões, caixas, o barro inteiro se aproxima, se aconchega, latas de refrigerante vem e vão ora pelos lábios de crianças, ora pelos lábios de dóceis abelhas nas lixeiras.

“É o senhor presidente quem vos fala, cidadãos de toda essa nossa terra suspirante!” grita o alto-falante e coça-se a barba branca o baixo-ouvinte, milhares de quilômetros de fibra ótica dali. “e suspiremos juntos, pois essa segunda feira é dia de ir ao parque, é dia de alimentar os pombos…, ” E o era mesmo, assim queriam os veterandos. O sangue derramado ontem hoje empresta a cor aos temperados molhos de tomate  das terras temperadas desse continente aliviado.Os canais abertos focalizam batalhões estacionando uniformes , cabeças cansadas afundando em nuvens de látex. Mas hoje! Hoje os únicos medalhões concedidos são os do peru dourando sobre o carvão. Carne nobre! Nobres homens! Heróis, pessoal! No três, três vivas!

Eis que hoje o continente recebe seus heróis com mesas fartas e vivas! Pois termino minha mandioca ainda faminto sendo, ao abrir minha carteira de plástico em seguida,  abordado violentamente por sanguinárias questões. E como vai a mesa dos derrotados, senhor presidente?

Intranquilo. Minha carteira à mesa, eu à deriva. Chovia agora  e meu olhar escorria com as espumas noturnas que os carros eufóricos dilaceravam  e redilaceravam até que se entregassem oleosas aos rios de meio-fio. Fitei-a, nós dois nos encaramos; seu material velho me dava asco: levantei-me inpaciente e fui embora: onde já se viu tanto continente para tão pouco conteúdo. . .


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